11/03/2014

Muitos esperam da Umbanda um comprimido para a dor de cabeça.

"O pilar da Umbanda que considero verdadeira, amor e sabedoria, é dar ao homem uma norma de vida, um roteiro mais do que seguro para pensar e agir, de maneira que este possa atingir a plenitude na sua evolução e alcançar assim uma vida feliz.

Todas as religiões procuram atingir este objetivo, de norma ética de vida. Mas estas normas que elas propiciam aos seus adeptos tem que ser criadas e aceitas cegamente como dogmas imutáveis. Já a Umbanda, convergente e flexível, leva a pensar, faz com que seus adeptos a compreendam de forma racional, por sua própria experiência. Não exige fé teológica, mas prepara o caminho para o encontro supremo com a sabedoria.

O Umbandista deve transpor o limiar do Santuário e entrar em contato direto com o mundo invisível, o seu Eu superior ou Self, que rege todos os mundos visíveis e, sobretudo, a vida humana. Sendo que este mundo invisível é o único mundo plenamente real, segue-se que só o homem que se realiza a si mesmo pelo despertar do seu Self é que pode conhecer por experiência própria esse mundo da Realidade Integral.

Mas o que todo aquele que pergunta se a Umbanda é aplicável à vida prática quer saber é o seguinte: sendo que todo o homem vive com uma infinidade de problemas, estão todos interessados em descobrir uma fórmula segura e de fácil aplicação que lhe garanta uma solução imediata. Uns são infelizes no amor, outros são frustrados profissionalmente, outros vivem o inferno no convívio familiar, outros vivem crivados de doenças, suas e de seus familiares que amarguram a sua vida. É natural, então, que todos esperem que a Umbanda possa aliviar os seus dissabores.

Pode então a Umbanda melhorar a vida humana aqui na Terra?

A Umbanda pode muito mais. Ela é um meio seguro e sólido para trazer tranquilidade e paz a vida do homem que com ela se identifique. Entretanto são relativamente poucos que conseguem desfrutar dos benefícios da verdadeira Umbanda, da arte da sabedoria, e porque?

Muitos esperam da Umbanda efeitos imediatos, como um comprimido para a dor de cabeça por exemplo, você toma e em mais ou menos 30 minutos dependendo do caso tem sua dor aliviada. Mas não é deste modo que a Umbanda atua na vida humana, por uma razão muito simples: ela, por ser amor a sabedoria, não está interessada em virar curandeira de males, quer ir além e cortar o próprio mal pela raiz. Como todo o mal da humanidade provém da ignorância e tem raízes muito profundas em cada ego inferior, não é possível neutralizar esse mal enraizado em apenas alguns dias com uma meia dúzia de lições. Toda a verdade atua com segurança no indivíduo, mas lentamente, porque precisa penetrar profundamente, todos os elementos que constituem o homem: alma, mente e corpo; tem de eliminar os velhos hábitos viciosos da personalidade, e substituí-los pela sabedoria cósmica do homem perfeito e integral (reforma íntima).

Como querer que todo o egoísmo humano, veneno da consciência físico-mental, fosse depurado em tão pouco tempo, quando a sua formação na personalidade humana remonta muitas vezes de décadas de vida, e sua origem no seio do genero humano data de muitos milhões de anos?

O que todos querem saber é se a Umbanda exerce impacto na vida prática, individual e social do homem; se traz a saúde, se promove os negócios, se facilita o crescimento profissional, se constrói uma família feliz, se facilita os estudos, etc.

Sim, sim, sim. Sem o menor receio de errar.
Um dos maiores Filósofos de todos os tempos disse: "procurai em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça, e todas as outras coisas lhe serão dadas de acréscimos". Ele afirmou também para não procurarmos o reino de Deus nem nos céus, na terra, ou nas águas, pois ele se encontra dentro de cada um de nós. É o encontro cósmico com o nosso Eu Superior, o Self de cada um que governa plenamente a nossa vida, integrado a tudo e a todos, em perfeita harmonia com o Universo.

A Umbanda quer tratar daquilo que o homem é, das suas qualidades internas, latentes, ainda não desenvolvidas. É um dos erros comuns e funestos supor que o elemento espiritual da qualidade deva substituir os elementos materiais da quantidade, o acúmulo de bens, a ganância, o orgulho e o egoísmo, etc. Este nosso reino de Deus interno, deve ser procurado, em primeiro lugar. Não podemos em hipótese alguma, servir-se das coisas espirituais como meio para o fim de alcançar as coisas materiais, porque isto seria procurar estas primeiro, degradando aquelas que realmente interessam.

A atitude correta é que o homem deve buscar a sua auto-iluminação, o seu Reino de Deus, sem segundas intenções, sem restrições mentais, quer venham, quer não venham resultados materiais imediatos. Se ficamos deprimidos quando os resultados palpáveis não aparecem, é sinal que a sua atitude interna era falsa, que procurava secretamente subordinar o mundo interno ao mundo externo.

Apenas quando o homem é 100% desinteressado nos resultados materiais é que ele verificará que "todas as outras coisas lhe serão dadas de acréscimo", precisamente porque ele não procurou ou fez depender delas o prosseguimento da sua auto-iluminação.

Tudo que dispomos, na verdade, inclusive nossa vida, não é nosso verdadeiramente. São benefícios e empréstimos da divindade. Um dia os temos, em outro eles podem nos ser tirados. O que é nosso de verdade? Os tesouros do coração, nosso aperfeiçoamento e auto-iluminação, e isto, ninguém pode nos tirar, são conquistas do espírito.

Assim são todas as coisas do mundo para o homem, quando muito procuradas ou ambicionadas, fogem dele, mas quando tratadas com uma certa indiferença, com desapego, então essas coisas se lhe oferecem espontaneamente.

A Umbanda é um grande desafio, uma das escolas de disciplina rumo a sabedoria e a verdade; ela não é ocupação, um passa tempo. Exige de todos muito estudo, reflexão e disciplina.

Muitos são os chamados, poucos os escolhidos. Mas esses poucos escolhidos se darão muito bem, por toda a disciplina (Ogum) que, voluntariamente, tomaram sobre si, porque descobriram um tesouro oculto na alma que lhes abriu o cárcere da ignorância.

Quem não viveu a verdade não sabe o que ela é. A experiência na Umbanda é algo eminentemente individual, intransferível, como o próprio ser de cada um."


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Texto de Huberto Rohden escrito na década de 60 e adaptado por mim.
Eu troquei, essencialmente, a palavra FILOSOFIA por UMBANDA além de criar o título.

Roberto Carquejo 

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