12/09/2011

Espíritos amordaçados

“Guardando conceitos equivocados, considerávamo-nos superiores aos que chamávamos de indígenas e, em nome dos nossos falsos valores, lutamos para aculturá-los com a nossa presunção de senhores do conhecimento.
Ledo engano! À medida que convivíamos com eles descobrimos a sabedoria de que eram portadores, no seu aparente primitivismo. Encontramos, nos seus cultos considerados grosseiros, informações profundas de uma para outra geração, oralmente e pelos trabalhos a que se afeiçoavam. Seus Xamãs, em momentosas comunicações espirituais eram, ao mesmo tempo, sacerdotes e médicos, pensadores e sábios, conselheiros, administradores e psicólogos eficientes...
As palavras acima são do espírito Charles White no livro Transição Planetária, psicografado por Divaldo Pereira Franco. Encarnado, este inglês viveu entre indígenas da Polinésia e aprendeu a respeitá-los e admirá-los até após a desencarnação. O texto nos serve para a reflexão de como tratávamos e ainda tratamos os indígenas e povos antigos desta ou de qualquer nação terrícola. Parece-nos incabível o Divino nos atos e palavras destes irmãos, encarnados ou desencarnados, um egoísmo levado à ignorância e desprezo.
E as manifestações de espíritos como Pretos Velhos e Caboclos, deixando de citar outros, são indesejáveis? Causam repulsas pela nossa sociedade?  Sim! Basta um olhar ao seu redor e sem muito esforço.  Assim é desde 1908 quando o médium Zélio Fernandino de Moraes, em 15 de novembro, foi conduzido à Federação Kardecista de Niterói para manifestar pele primeira vez o Caboclo das Sete Encruzilhadas. O constrangimento que causou naqueles homens e mulheres, médiuns, era sinal nítido do preconceito que estabelecia as diferenças entres os vivos, levando as mesmas além da barreira da morte. Sendo assim, o Caboclo anunciou o seu primeiro trabalho espiritual para o dia seguinte e que deveria acontecer às 20 horas. 
E assim foi, com a presença de uma multidão na Rua Floriano Peixoto, 30 – São Gonçalo – Rio de Janeiro. Manifestando-se no evento religioso, o Caboclo iniciava o culto chamado Umbanda, permitindo que espíritos de pretos velhos e índios nativos pudessem beneficiar, através da mediunidade de incorporação, irmãos encarnados e desencarnados de qualquer cor, raça, credo ou posição social.
Em sânscrito, Umbanda quer dizer Um (Deus) - banda (povos) – Deus para todos os povos. Na língua africana é Sacerdote. Mas, o próprio Caboclo das Sete Encruzilhadas explicou o significado mais importante: HUMILDADE, AMOR E CARIDADE.
Passaram-se mais de 100 anos e ainda nega-se a sabedoria Divina existente na simplicidade, rotulada inconscientemente de primitivismo. O preconceito e a intolerância se devem a utilização na Umbanda dos elementos da natureza como ÁGUA, AR, FOGO E TERRA?  Serão resquícios da inquisição em pleno século 21?  Faz parte de nossos genes as lembranças de Atlântida e Lemúria, civilizações muito antigas, mas avançadas no uso das forças elementais e que se corromperam ao ponto de serem expurgadas?
Não faz muito tempo fui abordado por um amigo que, surpreso, soube que eu era Umbandista e não demorou em perguntar-me se eu sacrificava galos, galinhas pretas, bodes entre outros animais. Ironicamente respondi: sim, e depois de mortos tomo-lhes o sangue num gole só.  Este amigo ficou branco e antes que ele desmaiasse fui logo explicando que se tratava de uma brincadeira e que compreendia a confusão, ao mesmo tempo o preconceito, pois eram alimentados pelo desconhecimento.
O ato de sacrificar animais é tão antigo quanto o homem, presente em praticamente todas as raças espalhadas pelo mundo. Vide os Judeus com o Velho Testamento e também Mulçumanos com o Alcorão, apenas para citar alguns.
O Candomblé, a origem principal da confusão, mantem até hoje a tradição religiosa do sacrifício, fundamentos africanos antigos e sem qualquer ligação com o “diabólico”, merece estudo e respeito. A Umbanda não é Candomblé.
A Umbanda nasceu no Brasil com as palavras do Caboclo Fundador: “Será a prática da caridade no sentido do amor fraterno, característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como Mestre Supremo o Cristo”.  Portanto, a Umbanda é fundamentalmente cristã e caracteriza-se pela simplicidade. Nela, o médium veste branco e ele e o local de trabalho são livres de qualquer ostentação. O sacrifício de animais nunca fez parte da Umbanda, algo desaconselhado pelo próprio guia espiritual fundador. Com o passar dos anos, a Umbanda sofreu convergências com outras religiões e pensamentos que a transformaram em “várias Umbandas” – algo previsível e natural para uma religião nova. 
Voltando ao livro Transições Planetárias, onde o médium Divaldo Franco relata-nos, pelo dom da psicografia, importantes experiências no plano espiritual vividas por Manoel Philomeno Batista de Miranda (valoroso espírita baiano desencarnado em 1942). Os relatos descrevem os trabalhos das equipes do plano espiritual no socorro às vítimas do tsunami do oceano índico e também na preparação do planeta para a recepção de uma nova geração de espíritos. Estas equipes fraternas foram formadas por trabalhadores oriundos de diversas comunidades, entre elas: Católicas, Mulçumanas, Judaicas, Espíritas e Indígenas.  Surpreso?
A luz do espiritismo nos aponta a convergência e, no sentido contrário, encarnados caminhamos intolerantes e preconceituosos, “amordaçando” amigos espirituais de luz porque continuamos impregnados de ilusão e egoísmo, distantes da Verdade.  Até quando seremos reféns da soberba e da intelectualidade, deixando de vencer o mundo.
Desejo paz.
Roberto Carquejo

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"O que uma caneta pode escrever quando o coração grita tão alto, ensurdecedoramente por causa da gratidão que é infinita na alma?  Entã...