20/12/2011

A figura do Menino Jesus chega a ofender

Amigos,

O mundo se esforça para apagar o significado do nascimento de Jesus Cristo e, assim, o maligno vence.  

Hoje, caminhando nos corredores de um grande shopping center em São Paulo,  observei as ricas decorações com enormes árvores de natal, duendes orelhudos com suas casinhas de madeira além das brilhantes e coloridas caixas de presentes espalhadas por todos os lados.  E o aniversariante?  nada! - nem nos cantos mais remotos e escondidos.  Presépio é coisa em extinção e, penso eu, que a figura do Menino Jesus chega a ofender a sociedade consumista.

O nascimento de Jesus, prova do amor e misericórdia de Deus, incentiva-nos a morrer voluntariamente, sepultando o homem velho e egoísta. No entanto, preferimos a ilusão no lugar da Verdade e do renascimento, escapando da reforma íntima e do encontro com nós mesmos.

O
Natal pode ser a esperança, a luz que nos permite enxergar além de Jesus, sentindo e compreendendo o nascimento de Cristo em cada um. 

Desejo paz.

Roberto Carquejo
Dezembro/2011

14/10/2011

Joguei fora as imagens do congá e agora elas brilham como estrelas.

Lá estava eu diante do congá, observando aquelas imagens que instantes depois estavam do lado de fora, numa caixa de papelão. Fiz isto com segurança, pois São Jorge não era Ogum, Nossa Senhora não era Oxum e Jesus nunca foi Oxalá.  Poxa! Estava na hora de acabar com o sincretismo, desnecessário em nossos tempos.
Abrem-se os trabalhos e nem pensar em rezar o Pai Nosso, “são forças que não combinam” dizem alguns filhos.  Deixei de saudar Dr. Bezerra de Menezes, o médico dos pobres, bem como ler Emmanuel e seus ensinamentos em livros de Chico. A convergência não é possível, “são forças que não combinam” dizem alguns filhos.
Caboclo não estava, mesmo assim bati no peito dizendo: agora sou 100% Umbanda!
No andar da gira é a vez dos Guias se manifestarem e Preto Velho chega devagar, traz consigo a sabedoria do Velho e na mão um terço com um cruzeirinho. Aproximo-me saudando suas forças e sem demora doces palavras se misturam com ervas e fumaça de cachimbo, ele fala de Cristo Jesus e me lembra de que por parábolas o Mestre nos ensina o amor.
Pouco demorou e o querido malandro, linha de José Pelintra, se apresenta com trejeitos saudosos e nos remete ao respeito. “Sou devoto de Nossa Senhora do Carmo, vida e expressão máxima do amor, Oxum, que aqui nesta terra passou”, diz-me ele prontamente e com olhar penetrante como quem adverte.
De repente, um “Salve Nosso Senhor do Bonfim” ilumina o terreiro todinho com aquele que conhece bem a nossa gente, por dentro e por fora.  Saúda-me o Baiano com um forte abraço que me chama para a alegria e sem querer me vejo sorrindo.  Noto em sua cintura uma bainha, era uma faca, quase um facão. Percebendo minha curiosidade, desembainhou e saudou Ogum dizendo: “com ela, cabra, quebro demanda e abro caminhos!”. O querido Baiano fica pouco entre nós e despedindo-se avisa: “Em toda casa tem um retrato de São Jorge, dando sua proteção, ele é Padroeiro do Brasil e disso não se esqueça”.
No entra e saia daqueles que vieram em busca de ajuda, nossos irmãos da assistência, um barulho estranho repercute no terreiro, parece uma campainha... E, num segundo, me vejo quase caindo da cama brigando com o despertador. Ora, tudo aquilo não passava de um sonho. Levantei-me, rosto lavado e mesmo assim continuava a pensar e muito impressionado por lembrar-me dos detalhes e das palavras daquelas entidades espirituais. 
Barba feita, banho tomado e um cafezinho rápido. Roupa branca, guias e toalha já estão separados, hoje a noite tem trabalho de Caboclos no Templo, e, depois do sonho que tive, nem pensar em faltar.
O dia passou rápido e lá estava eu batendo cabeça diante do congá onde Oxalá, Ogum e Oxum parecem me olhar diferentemente, fico sem jeito lembrando-me do sonho, tudo muito parecido.
Salve Oxalá!  Salve a nossa defumação! Assim começamos os trabalhos com a imagem de Jesus Cristo no ponto mais alto, seus braços abertos e acolhedores nos convidam à aceita-lo e caminhar com ele. Quem anuncia a oração de abertura é uma mulher, loira, os olhos são azuis e não tem 45 primaveras, é nossa sacerdotisa. O zum, zum, zum entre os visitantes me chama à atenção e percebo cochichos e sorrisos de alguns que chegam pela primeira vez, espantados é claro ao ver uma líder religiosa que foge do estereótipo criado pela sociedade, puro preconceito. 
Pede-se silêncio, iniciam-se as orações de abertura com aquela que o próprio Cristo nos ensinou, o Pai Nosso. Fico para traz, demoro a iniciar a oração e não acompanho os demais. De cabeça baixa lamento as minhas próprias palavras naquele sonho, aceitando de alguns a ideia de que o Pai Nosso é uma oração incompatível com a liturgia umbandista. Negar o Pai Nosso é negar o próprio Mestre e com esta afirmação me conscientizo, me recomponho. Findando o Pai Nosso, a segunda oração se inicia com palavras que nos remete à Natureza, ao Divino, fala das vozes dos animais, do ruído das árvores, do murmúrio das águas e no gorjeio dos pássaros. Trata-se de uma oração Sufi, o lado místico do Islã, diz a nossa sacerdotisa.   Eu fico, mais uma vez, de cabeça baixa perguntando-me o que mais estava por vir naquele ritual e quantos ensinamentos eu ainda teria.
Da abertura vamos às saudações das forças que chamamos de Orixás que até ontem, pensava eu, eram santos ou anjos e agora percebo que são os Tronos Sagrados de Deus, O Criador, o mesmo Deus de tudo e de todos.
A gira, assim chamamos o nosso ritual, prossegue em harmonia e nos aproximamos da chegada dos Caboclos com os atabaques em sinfonia. Certa vez, ouvi um irmão de fé dizer: “Quem toca atabaque é Ogan, ele bate no couro sem bater, com espirito e sabedoria divina, como um grande maestro com sua orquestra, anuncia a chegada de nossos Guias e Orixás” - Ajoelhados ainda cantamos para Oxóssi, a força sagrada da Inteligência e do discernimento. Okê, Okê é a saudação e são os índios na sua maioria que fazem uso da matéria de nossos médiuns.
Num instante, parece que deixo o corpo físico e me vejo vagando em mata virgem, num lugar maravilhoso de algum país tropical talvez. Naquela paisagem tão cristalina perguntei a mim mesmo: que mistério é este chamado Caboclo?  Quem são estes índios na Umbanda?   De repente, interrompido por um forte estalar de dedos, abro os olhos e vejo diante de mim um irmão do templo, médium, com olhar profundo vestia um lindo cocar branco, era Caboclo incorporado e tinha um sorriso estampado no rosto.   Ele pede desculpas pelo susto, me cumprimenta e com a palma da mão toca levemente a minha testa, o chacra frontal, e como quem lê as coisas da nossa alma diz: Filho, muitas foram as tribos indígenas deste mundo e, em especial, nesta região que vocês chamam de América. Caciques, Pajés e Guerreiros de norte a sul hoje, em Aruanda, formam uma grande nação Divina. Salve as forças que te acompanham!  Emocionado pelo respeito e carinho daquele índio, saldei-o com um abraço. 
Sentia-me leve naquele momento e, ao mesmo tempo, com a necessidade de acalento para as dúvidas que batiam forte em minha alma.  O Caboclo sabia e lendo meus pensamentos não hesitou em esclarecer-me: Sei do teu sonho e de tuas dúvidas, é a razão da minha presença diante de ti. Foi real o teu contato com aquelas entidades, pois se tratou de um desdobramento espiritual. Note que para cada questão que ainda te aperta o coração uma resposta foi oferecida.  A primeira resposta vem com um terço e um cruzeiro na mão, sinal enraizado de Jesus, o Cristo. Num segundo apenas interrompo o Caboclo em pensamento para perceber que se tratava daquele Preto Velho, o primeiro a se manifestar em meu sonho. O Caboclo dá um pito e confirma: Sim! Preto Velho te alertou de que Cristo Jesus, até hoje, fala por parábolas, forma simples de se fazer entender, porque como no passado, olhos e ouvidos não estão totalmente prontos para compreender as Verdades Profundas. Que o filho de Umbanda procure o trabalho fraterno de socorro respeitando o momento de cada um no caminho da evolução. Umbanda tem fundamentos muito antigos e sagrados e por isso requer tempo, estudo, dedicação e principalmente prática no trabalho de caridade. O Criador, Olorum, espera com paciência e misericórdia o acender da consciência de cada um. Oxalá, a Fé, havia em Jesus como em nenhum outro e para poder compreender isto é preciso antes enxergar o Mestre no alto do congá, na forma do Ser encarnado, para depois encontrar Nele, sem as vestes carnais, a Força Cristalina.
As palavras daquela entidade de luz fazia misturar-se em mim o sentimento de culpa e gratidão com a certeza de que a soberba e o egoísmo cegaram-me naquela noite em que o sonho se transformou em realidade, achando-me detentor da verdade.
Após um silêncio profundo, retoma o Caboclo com os esclarecimentos que ainda faltavam e me pergunta: Lembra-te do José Pelintra?  Sim! Respondo prontamente. Ele te adverte trazendo a segunda resposta em meio ao seu próprio mistério. Diversas são as falanges desta linha de trabalho, espíritos do bem e devotos de Nossa Senhora, Mãe de Jesus. Os chamados Malandros têm em Oxum, a Força do Amor e da Concepção, a sua razão de ser e trabalhar na espiritualidade. Assim como a imagem de Jesus no congá nos leva a compreender a força chamada Fé, Oxalá, a imagem de Nossa Senhora nos permite compreender a Força que representa este Orixá chamado Oxum. Nossa Senhora não é Oxum, mas a Força Oxum, o Amor e a Concepção, há na figura de Maria plenamente.
Com tantos esclarecimentos e ensinamentos foi possível antecipar a terceira e última resposta bastando lembra-me do querido e alegre Baiano saudando Nosso Senhor do Bonfim e de seu facão, instrumento consagrado para a magia Divina.  Com a vontade e a humildade de um espírito amigo, Caboclo complementa com a última resposta daquele desdobramento: Cada entidade tem a sua regência, o Baiano revela-se de Ogum com evidência. Por isso, as palavras dele protegem o sincretismo na tua terra, Brasil, onde São Jorge é padroeiro. Pede respeito àquela imagem do Guerreiro que é uma forma de se alimentar de coragem e esperança, acreditando o homem simples na Lei Divina.  Ogum é o Trono Sagrado que representa a Lei, a Disciplina e a Ordem, Forças emanadas pelo Criador, Olorum.  Portanto, o Guerreiro Jorge não é Ogum, mas há nele profundamente esta Força.
O Caboclo termina com um silêncio calmo e profundo, expressando um leve sorriso no rosto do médium que lhe serve como instrumento. Alegra-se o espirito por alcançar o objetivo de nos orientar e de nos aproximar da consciência. Antes que o Caboclo ameaçasse qualquer despedida, parti então para abraça-lo com um forte sentimento fraterno, inesquecível como suas lições. Meus olhos lacrimejados era o sinal do agradecimento profundo e também da despedida. Antes que aquele espirito amigo se fosse, perguntei-lhe gentilmente o seu nome e ele me oferece a última e esclarecedora lição daquela noite com sua resposta: Filho de Umbanda, pode me chamar de Caboclo de Oxóssi, humilde trabalhador da espiritualidade onde faço parte de um grupo socorrista, atendendo encarnados e desencarnados. Fui médico num passado distante, índio curandeiro numa oportunidade mais recente e, por misericórdia Divina, hoje presto serviços com a orientação de um espírito amigo e iluminado, por vocês conhecido como Bezerra de Menezes. Despeço-me com a certeza de que a semente foi plantada e de que o filho de Umbanda será multiplicador de uma nova esperança, possibilitando a todos o ultrapassar do comodismo mental, quebrando as amarras que os tornam prisioneiros de condicionamentos herdados. Lembra-te das palavras do Cristo, Mestre desta Terra, que nos ensina a Ser com Deus apenas Um.   O Caboclo de Oxóssi me abraça pela última vez e se despede de todos os demais irmãos que ali estavam. O Ogan toca o atabaque e todos cantam para a subida dos Caboclos, e eles vão embora, diz o ponto cantado, beirando o rio azul.
Terminam os trabalhos com saudações às Forças do templo e agradecimentos. Fazemos uma oração final e cantamos o hino da Umbanda com a mão direita no peito, sinal de respeito e demonstração de fé.  A Gira esta encerrada.
Propositalmente aguardo a saída de todos os irmãos de fé e, por alguns minutos, fico diante do congá, contemplando aquelas imagens exatamente como fiz naquele sonho. As luzes ainda estavam acessas, mas o silêncio no templo se fazia absoluto e quase se podia ouvir os meus pensamentos. Ali, em voz baixa, afirmo para mim mesmo que Jesus é Oxalá, Oxum é Nossa Senhora e Ogum é São Jorge, acreditando pessoalmente que as imagens serão desnecessárias no seu devido tempo, respeitando a linha evolutiva de cada um.  Viro-me para o lado e observo agora a imagem de Bezerra de Menezes, nela um olhar simples e meigo me lembra de que a exaltação nos leva a humilhação. Peço desculpas ao médico dos pobres e olhando firme para aquela imagem digo, Sim! A Umbanda é convergente, religião onde combinam todas as Forças Divinas, Salve Emmanuel!  Salve Chico Xavier!
Retiro me do local com respeito e sendo o último a sair, apago todas as luzes. Antes de fechar a porta por completo, observo por uma pequena brecha, como quem olha escondido uma criança antes de dormir, todas as imagens do congá a brilhar como estrelas nas luzes de velas coloridas.

Roberto Carquejo.

12/09/2011

Espíritos amordaçados

“Guardando conceitos equivocados, considerávamo-nos superiores aos que chamávamos de indígenas e, em nome dos nossos falsos valores, lutamos para aculturá-los com a nossa presunção de senhores do conhecimento.
Ledo engano! À medida que convivíamos com eles descobrimos a sabedoria de que eram portadores, no seu aparente primitivismo. Encontramos, nos seus cultos considerados grosseiros, informações profundas de uma para outra geração, oralmente e pelos trabalhos a que se afeiçoavam. Seus Xamãs, em momentosas comunicações espirituais eram, ao mesmo tempo, sacerdotes e médicos, pensadores e sábios, conselheiros, administradores e psicólogos eficientes...
As palavras acima são do espírito Charles White no livro Transição Planetária, psicografado por Divaldo Pereira Franco. Encarnado, este inglês viveu entre indígenas da Polinésia e aprendeu a respeitá-los e admirá-los até após a desencarnação. O texto nos serve para a reflexão de como tratávamos e ainda tratamos os indígenas e povos antigos desta ou de qualquer nação terrícola. Parece-nos incabível o Divino nos atos e palavras destes irmãos, encarnados ou desencarnados, um egoísmo levado à ignorância e desprezo.
E as manifestações de espíritos como Pretos Velhos e Caboclos, deixando de citar outros, são indesejáveis? Causam repulsas pela nossa sociedade?  Sim! Basta um olhar ao seu redor e sem muito esforço.  Assim é desde 1908 quando o médium Zélio Fernandino de Moraes, em 15 de novembro, foi conduzido à Federação Kardecista de Niterói para manifestar pele primeira vez o Caboclo das Sete Encruzilhadas. O constrangimento que causou naqueles homens e mulheres, médiuns, era sinal nítido do preconceito que estabelecia as diferenças entres os vivos, levando as mesmas além da barreira da morte. Sendo assim, o Caboclo anunciou o seu primeiro trabalho espiritual para o dia seguinte e que deveria acontecer às 20 horas. 
E assim foi, com a presença de uma multidão na Rua Floriano Peixoto, 30 – São Gonçalo – Rio de Janeiro. Manifestando-se no evento religioso, o Caboclo iniciava o culto chamado Umbanda, permitindo que espíritos de pretos velhos e índios nativos pudessem beneficiar, através da mediunidade de incorporação, irmãos encarnados e desencarnados de qualquer cor, raça, credo ou posição social.
Em sânscrito, Umbanda quer dizer Um (Deus) - banda (povos) – Deus para todos os povos. Na língua africana é Sacerdote. Mas, o próprio Caboclo das Sete Encruzilhadas explicou o significado mais importante: HUMILDADE, AMOR E CARIDADE.
Passaram-se mais de 100 anos e ainda nega-se a sabedoria Divina existente na simplicidade, rotulada inconscientemente de primitivismo. O preconceito e a intolerância se devem a utilização na Umbanda dos elementos da natureza como ÁGUA, AR, FOGO E TERRA?  Serão resquícios da inquisição em pleno século 21?  Faz parte de nossos genes as lembranças de Atlântida e Lemúria, civilizações muito antigas, mas avançadas no uso das forças elementais e que se corromperam ao ponto de serem expurgadas?
Não faz muito tempo fui abordado por um amigo que, surpreso, soube que eu era Umbandista e não demorou em perguntar-me se eu sacrificava galos, galinhas pretas, bodes entre outros animais. Ironicamente respondi: sim, e depois de mortos tomo-lhes o sangue num gole só.  Este amigo ficou branco e antes que ele desmaiasse fui logo explicando que se tratava de uma brincadeira e que compreendia a confusão, ao mesmo tempo o preconceito, pois eram alimentados pelo desconhecimento.
O ato de sacrificar animais é tão antigo quanto o homem, presente em praticamente todas as raças espalhadas pelo mundo. Vide os Judeus com o Velho Testamento e também Mulçumanos com o Alcorão, apenas para citar alguns.
O Candomblé, a origem principal da confusão, mantem até hoje a tradição religiosa do sacrifício, fundamentos africanos antigos e sem qualquer ligação com o “diabólico”, merece estudo e respeito. A Umbanda não é Candomblé.
A Umbanda nasceu no Brasil com as palavras do Caboclo Fundador: “Será a prática da caridade no sentido do amor fraterno, característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como Mestre Supremo o Cristo”.  Portanto, a Umbanda é fundamentalmente cristã e caracteriza-se pela simplicidade. Nela, o médium veste branco e ele e o local de trabalho são livres de qualquer ostentação. O sacrifício de animais nunca fez parte da Umbanda, algo desaconselhado pelo próprio guia espiritual fundador. Com o passar dos anos, a Umbanda sofreu convergências com outras religiões e pensamentos que a transformaram em “várias Umbandas” – algo previsível e natural para uma religião nova. 
Voltando ao livro Transições Planetárias, onde o médium Divaldo Franco relata-nos, pelo dom da psicografia, importantes experiências no plano espiritual vividas por Manoel Philomeno Batista de Miranda (valoroso espírita baiano desencarnado em 1942). Os relatos descrevem os trabalhos das equipes do plano espiritual no socorro às vítimas do tsunami do oceano índico e também na preparação do planeta para a recepção de uma nova geração de espíritos. Estas equipes fraternas foram formadas por trabalhadores oriundos de diversas comunidades, entre elas: Católicas, Mulçumanas, Judaicas, Espíritas e Indígenas.  Surpreso?
A luz do espiritismo nos aponta a convergência e, no sentido contrário, encarnados caminhamos intolerantes e preconceituosos, “amordaçando” amigos espirituais de luz porque continuamos impregnados de ilusão e egoísmo, distantes da Verdade.  Até quando seremos reféns da soberba e da intelectualidade, deixando de vencer o mundo.
Desejo paz.
Roberto Carquejo

21/08/2011

Quando o Caboclo bater no peito, lembra que o índio brasileiro come no lixo.

Prezados amigos e irmãos de fé,

A revista Veja, edição 2219 (1/06/2011), traz uma reportagem chamada "Uma Reserva de Miséria". Trata-se de um triste relato a respeito de nossos índios de Roraima que junto com brancos e mestiços sofrem e são praticamente expulsos da reserva Raposa Serra do Sol.  O governo federal alega que diversas famílias (brancos e mestiços) ocuparam ilegalmente a terra indígena, mesmo para aqueles que possuíam títulos emitidos havia mais de 100 anos pelo próprio governo.  Foi prometido indenização justa, mas, na hora do "vamos ver" a justiça não foi feita. Sem poder cultivar a terra, os antigos proprietários deixaram de empregar os índios que agora não tem o que comer. Os donos desta terra, graças a presença do branco, não têm mais o que caçar e pescar. Inocentes, depois de séculos sem escolha, são dependentes e esquecidos.  

Para resumir a história e ir direto ao assunto que me leva a escrever-lhes, saibam que estão se formando novas favelas na periferia de Boa Vista, capital do Estado.  Famílias inteiras de índios, oriundas das aldeias,  começaram a erguer barracos em um aterro sanitário da cidade, buscando latinhas de alumínio e comida no lixo, a única forma de subsistência.

Estou certo de que o triste caso de Roraima é pequeno perto da realidade indígena no território nacional.

Como posso ficar calado e insensível se o índio é meu irmão?  Brancos e mestiços também, sem distinção.  Mas o ÍNDIO, sua força mística, divina e cultural é parte fundamental da minha religião, a Umbanda - por isso, torna-se o caso ainda mais alarmante, tocando-me profundamente.  

Irmãos de fé,  a nossa religião nasceu no início do século passado com a missão, entre outras, de oferecer aos índios desencarnados a oportunidade de se manifestarem e assim nos ensinar, curar e evoluir em conjunto.   Então, quando ele, o Caboclo, com sabedoria e humildade bater no peito na próxima vez, vá além do seu pensamento e vibração que deseja o respeito, manifeste-se verbalmente para todos os amigos, conhecidos e irmãos que lhe rodeiam, em voz alta diga que o nosso índio,  o índio brasileiro,  sofre e padece igual a natureza, largado como os rios e as matas, igualmente caminham para o sufocamento e a morte.  

Daqui pra frente,  faça e pense o que quiser.  E se os filhos de Umbanda resolverem levantar a voz agora mesmo,  eu estarei no meio para somar, levando a força Oxalá porque temos fé em Olorum, Deus nosso criador;   Oxóssi porque somos inteligentes e capazes de atingir o que queremos divinamente;   Ogum porque somos protetores, lei e guerreiros;  Oxum pelo amor puro ao próximo;   Obaluaiê permitirá a saúde, o renascimento e a evolução em paz;  Xangô fará de nossos pensamentos, atos e palavras a verdadeira justiça;  e a força que chamamos de Iemanjá, a força da Mãe, nos acolherá e permitirá o nascer de uma nova esperança e vida.

Obrigado e perdoe-me por tomar o seu precioso tempo.

Roberto Carquejo   

A árvore toma a tua alma e o teu coração para brindar a criação.



Quando foi a última vez que você abraçou uma árvore e conversou com ela?   
Pode fazer isto pela primeira vez na sua vida?    É PRECISO CORAGEM!
Num lugar agradável, escolha uma árvore que te chame a atenção e aproxime-se dela lentamente.  Acredite, ela o esperava por muito tempo.
  1. Vença as barreiras do ego (a parte mais difícil);
  2. Encoste o teu chacra frontal (testa - Oxóssi) nela e também as mãos bem abertas. Se possível, com um pouco mais de coragem, abrace-a e encoste o chacra cardíaco (peito - Oxum) também;
  3. Esta envergonhado?  Sentindo-se um idiota?  Volte para o passo 1;
  4. Legal!  você está se conectando;
  5. Sinta teu coração bater junto com a vibração da árvore (agora tua irmã) e não pense em nada (pensar em nada é difícil?  volte para o passo 1);
  6. O vazio toma conta de você e não assuste-se com a vacuidade, é a " estranha" essência Divina que te completa;
  7. Ambos se transformam em apenas UM.
É incrível transformar aquele divino ser vegetal numa extensão do teu corpo. A árvore, por sua vez, toma a tua alma e o teu coração para brindar a criação.

Observe o quanto a árvore é apenas uma com ela mesma e nós, humanos, divididos em dois (ego e Verdade). As coisas naturais estão unificadas consigo mesmas e com a TOTALIDADE. 

Através de você  a natureza toma consciência de si mesma, como se estivesse te esperando por dezenas, centenas ou milhares de anos. Disto, por séculos, as escolas com os seus mestres e as igrejas com o seus cleros se ausentam.

O que nos foi ensinado é insuficiente, estamos repletos de nós mesmos, numa incrível incapacidade de auscultar o silêncio e de se aproximar da Verdade. As experiências místicas são indesejáveis e insuportáveis para a sociedade atual,  um pecado.

Desejo paz.


Roberto Carquejo

09/08/2011

Todo o segredo da pedagogia e psicologia.....

Só uma nova atitude pode neutralizar a antiga. O que sucede com o mal acontece da mesma forma com o bem, graças a Deus. Quanto maior for o número dos atos bons e quanto mais profundamente vividos forem esses atos, tanto mais poderoso se tornará o invisível exército concentrado na zona inconsciente da alma, lançando, no momento crítico, o seu contingente para o campo de batalha do consciente.

Todo o segredo da pedagogia e da psicologia, toda a estratégia espiritual esta em saturar, por meio de atos eticamente bons e profundamente vividos, o terreno donde brotam os impulsos insconscientes que em grande parte determinam o caráter dos nossos atos conscientes e revestidos de imputabilidade.

Trecho do livro "Agostinho" de Huberto Rohden

03/08/2011

Francisco de Assis vestido para matar em sua armadura...

Prezados amigos,
 
Prefiro chamar de Homens Especiais aqueles que a igreja católica romana trata como Santos.  Me chamam a atenção as histórias de vida de alguns deles, como Agostinho (Aurelius Augustinus) e Francisco de Assis. Em ambos, percebo a luta pela Cristificação da alma, cientes do problema ainda atual: Cristianismo ou Cristo?  -  Lembrou-me Mahatma Gandhi da mesma forma quando afirmou aceitar o Cristo mas não o cristianismo.
 
Lhes escrevo para indicar dois livros interessante:  "O Santo e o Sultão" e  "Agostinho" 
 
"O Santo e o Sultão" (editora Acatu) é obra do jornalista Paul Moses e relata, com este cunho, a história antiga que ainda ressoa numa era em que Cristãos e Mulçumanos olham uns aos outros com suspeita.  Trata-se do encontro entre Francisco de Assis e o líder islâmico Matikal Kamil numa ousada missão dele nas Cruzadas em 1219.  O encontro memorável é um precursor dos diálogos de paz entre os povos.
 
Conhecemos Francisco de Assis por sua entrega à pobreza, pelo desprendimento e amor a vida.  Mas o livro também mostra-nos, no inicio, o Francisco vestido para matar em sua armadura e montado num cavalo, algo difícil de visualizar. "Francisco conhecia bem a crueldade dos homens em guerra, sabia muito bem das torturas e mutilações infligidas." "Com experiências assustadoras, sentiu o terror das batalhas e passou de guerreiro a pacificador."
 
O livro "Agostinho" é da editora Martin Claret, obra do filosofo brasileiro Humberto Rohden e nos mostra de forma simples o homem Agostinho, na sua juventude um aventureiro entregue a volúpia, paixões sensuais, noites sem fim, profano.  Mais tarde, transformou-se em homem consciente, achou-se perto de Deus. Agostinho (350 DC) escreveu cartas tão numerosas com poucos homens, verdadeiros tratados de filosofia e religião.  Muitos o chamam de O Santo da Inteligência.
 
Desejo boa leitura.
 
Roberto Carquejo

01/08/2011

Deus é Quem tem sorte

Querido Apa,
Oxalá cada família tivesse seu Rolandro Boldrin para contar causos, aquelas histórias elegres e emocionantes prá ficar horas ouvindo. Com a nossa família assim foi, suas histórias e experiências, contadas por tantas e tantas vezes, nem pareciam repetidas de tão divertidas e emocionantes, regradas de sabedoria.
Certo dia me perguntaram quem foi  Apparício Ferreira e de pronto respondi: Um homem diferenciado, especial. Carinhosamente chamado de Apa, era desses homens com o dom da palavra, educado prá lá da conta,  daqueles que a gente se apaixona no primeiro momento.  
Digo sempre, meu tio Apa tinha de um olhar meigo e palavras harmoniosas – simples o suficiente para querer ficar mais um pouco.  Apresentá-lo a alguém era um gesto de prazer e orgulho: “aqui esta um homem dócil e iluminado, um amigo de todos”. Foi um filho carinhoso, um pai e esposo da mesma forma.  Para tio Apa, nunca algo lhe pertenceu que não pudesse compartilhar ou doar.  Olhos azulados, iguais ao do Vô Nico, transmitiam segurança, confiança e alegria.   
Apa, às vezes sou parte de sua história vivida, vejo-me sentado naquela estação de trem esperando o apito de partida que demora a acontecer.  Percebo que de um dos vagões sai um ilustre cidadão, vestindo paletó e gravada, barba bem feita, dirige-se à lanchonete da estação para comprar o último salgadinho da estufa. Agora sim, o trem pode partir.
Todos nós, amigos e familiares, sentimos e choramos na sua  despedida. O que me conforta é a consciência de que somos eternos e que cada passagem por aqui é a oportunidade Divina de subir um ou mais degraus sentido à Essência, a Verdade. Enquanto escrevo esta carta, peço humildemente ao divino Mestre, Cristo Jesus, que cada letra lhe chegue como pétala de luz, renovadora de nossos laços, espíritos afins.
Me despeço com saudades mas certo de que Deus, nosso Criador, ouve bem de pertinho suas histórias, como se Ele estivesse ouvindo pela primeira vez.
De seu sobrinho e amigo,
Beto.

23/07/2011

Considerações iniciais para uma iniciação

É medíocre a visão de que tudo acaba aqui, após a morte. Mesmo com tantas evidências ainda ficamos perdidos sem acreditar na vida eterna, nos apegando aos poucos anos vividos nesta terra, como se fossem únicos, limitados no tempo e no espaço. Limitados, também, no uso da intuição, seguindo a posteriori, induzindo, se aproveitando apenas do verso (efeitos) e não do Uno (causa).  O iniciado com o desejo do ser místico deve buscar caminhos que o leve a essência e a Verdade, encontrando-se assim com o Criador.  Como?

1 - PROCURE O SILÊNCIO.

Jesus, o Cristo, passou 40 dias no deserto. Entender profundamente esta passagem bíblica é para quem busca o ser místico algo de fundamental importância.  Encontrar-se com o diabo (ego), como fez Jesus, é encontrar-se com as coisas deste mundo, com a ilusão e a mentira. Sofrer-se numa batalha interna grandiosa para renunciar a condição mundana, sedutora e aparentemente a mais fácil, optando por Cristificar-se, a Verdade (O Eu).


CRISTO HAVIA EM JESUS.

Raros são os momentos em que dedicamos a esvaziar-nos, então, vivemos no ruído.  Esvaziar-se é seguir o conselho daquele mestre em artes marciais que quando questionado pelo seu novo aluno sobre como aprender e executar os movimentos avançados de ataque e defesa, ele responde: “esvazie a sua xícara de chá”.  A resposta nos serve para o alcance das coisas do espírito, pois esvaziar-nos é distanciar-nos do ego, da ilusão e, proporcionalmente, aproximar-nos do verdadeiro EU. É a meditação a principal ferramenta do médium, simples, ao alcance de todos e que oferece a possibilidade de alcançar a vacuidade, propicia a invasão divina da essência e a consciência acontece. No evangelho de Tomé, apócrifo, Cristo Jesus refere-se ao autoconhecimento que culmina em auto-realização: “quem conhece o Universo, mas não se possui a si mesmo, esse não possui nada”.Quantas vezes, nos últimos meses, você procurou o silêncio?  Faça a mesma pergunta a seus amigos e colegas. Sinta a grande massa de pessoas, incluindo nós, mergulhada no ruído e, conseqüentemente, impedida de se encontrar, sem consciência, desligada do imaterial, impossibilitada de morrer voluntariamente, apenas compulsoriamente. 

2 – MORRA VOLUNTARIAMENTE E VIVA DO VIVENTI.

A morte compulsória, morte da carne, é certa para qualquer um de nós. Mas, escolher morrer voluntariamente é vencer o mundo e descobrir o seu íntimo ser.  Vencer o mundo é vencer o maligno, vencer o ego, optando por caminhar lucificado nesta Terra e desde já viver eternamente, não existindo mais o nascer e nem o morrer.  O que sentimos ao ouvir isto?  Provavelmente um temor pelo desconhecido ou o sentimento de que é inalcançável. Para o iniciado, a morte voluntária chega pela fé e na medida em que se atinge a sublime consciência, renuncia ao visível para contemplar o invisível. Disse Cristo Jesus: “o céu e a terra se desenrolarão diante de vós, e quem vive do Vivente não verá a morte. Quem se acha a si mesmo, dele não é digno o mundo”.

Primeira Lição

Talvez a primeira lição esteja no provérbio: “Os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir” (Ecl. 1,8). Devemos desviar nossos corações das coisas visíveis e transportá-los às invisíveis, percebendo que Deus reside no silêncio, longe do ego, alcançável pela Consciência, a Verdade.  A figura de um Pai Criador, protetor, transforma-se, figurativamente, numa criança sentada num grande jardim a brincar, sem se preocupar com o que acontece aqui ou ali, pois tudo é perfeito.  Sejamos apenas Um, nós e o Pai.

Um exemplo de servir.

Quando ainda criança, os primeiros exemplos de fé e caridade eu recebi de um homem que fazia de todos os seus dias a missão de atender o próximo sem receber nada em troca.  Médium a flor da pele, esta pessoa oferecia-se a espiritualidade por inteiro, sem limites para a caridade, verbalizando mensagens de luz, psicografando, aplicando passes de cura e equilíbrio a qualquer hora. Nele, simplicidade e alegria eram contagiantes, sem estarem sujeitas às categorias de tempo e espaço.  Para os desatentos na época, levava este médium uma vida triste e difícil por parecer o dia a dia de quem faz a caridade algo demasiadamente monótono.  Grande engano, pois a alegria não vem de fora para o homem espiritualizado e sim de dentro.  Sem estímulos violentos para acontecer, a alegria brota por toda a parte porque a alma está afinada com o Criador.  Este homem, meu pai e hoje desencarnado, me ensinou a encontrar Deus pela experiência mística, transbordar benevolência e felicidade para transformar tudo em boa vontade.

A Terra é a grande oportunidade e o Mistério a mais bela experiência.

Na condição de espíritos encarnados, humanos, nos cabe a graça de evoluir tendo a terra como uma grande oportunidade e o mistério como a mais bela experiência que podemos ter.  Segundo Albert Einstein, um místico antes de cientista, é o mistério a emoção fundamental que está na origem da arte e da ciência verdadeiras.  A espiritualidade é, essencialmente, um mistério.  Ser espírita, espiritualista ou umbandista é conviver com o mistério, todos os dias, a cada instante.

Água nos olhos

"O que uma caneta pode escrever quando o coração grita tão alto, ensurdecedoramente por causa da gratidão que é infinita na alma?  Entã...